domingo, 27 de dezembro de 2015

1º volume - Os Subterrâneos da Liberdade - Os Ásperos Tempos (Jorge Amado)

O escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) escreveu no início da década de 50 o romance tripartido “Os Subterrâneos da Liberdade” (1. Os ásperos tempos,2. Agonia da noite e 3. A luz no túnel).
A história se passa durante a ditadura fascista da administração Getúlio Vargas no chamado Estado Novo.
Jorge Amado descreve com maestria a luta do povo brasileiro, sob a direção do PCB, contra o domínio imperialista e o fascismo de Vargas. A atividade clandestina do Partido Comunista, em meio à greves, atos e manifestações operárias e populares, percorre todo o romance.
E, se por um lado mostra a ação dos revolucionários, por outro, revela a asquerosa atuação das classes dominantes que utilizam todos seus meios sujos para deter as massas populares e o Partido Comunista. Denuncia as torturas cometidas pelo Estado Brasileiro contra os comunistas e, a cada linha, demonstra a superioridade moral da classe operária ante a degenerada moral burguesa.
É, sem dúvida, um romance otimista, irradiador de esperança. Acredita e propaga a força indestrutível das massas populares e, mesmo sob as condições mais difíceis, encherga a luz no fim do túnel. Uma grande obra da literatura nacional.

O Zahir -Paulo Coelho

Uma fascinante história sobre o significado e o poder do amor, e sobre a relação íntima entre a liberdade, a realização pessoal e a necessidade que cada um tem de alcançar seus objetivos.

O protagonista de 'O Zahir' é um autor de renome internacional, casado há 10 anos com Esther, uma jornalista bem-sucedida.

Um dia Esther desaparece e as autoridades decidem interrogar o marido. Todos se perguntam se ela teria sido sequestrada, assassinada, ou se simplesmente resolvera abandonar um casamento que a deixava insatisfeita. Ele não tem as respostas, mas, pouco a pouco, começa a questionar a própria existência.

Passado algum tempo, um amigo de Esther encontra o escritor e promete levá-lo até sua mulher. Os dois deixam para trás o glamour parisiense e embarcam numa viagem ao Cazaquistão.

É nesse lugar, marcado por uma história trágica e espiritualmente poderosa, que o escritor faz descobertas surpreendentes sobre si mesmo.

Mais uma vez, Paulo Coelho prova seu valor como contador de fábulas contemporâneas, mesclando histórias irresistíveis e a eterna busca por iluminação.

O Prisioneiro – Erico Verissimo

O Prisioneiro – Erico Verissimo


O Prisioneiro – Envolvido numa guerra fratricida em terra estrangeira, um tenente prestes a voltar a seu país presencia uma cena dramática: uma bomba destrói o bordel onde ele estava poucos momentos antes e mata a moça por quem se apaixonara. Um dos terroristas, capturado logo depois pelas forças aliadas, é um jovem de apenas dezenove anos cujas feições o remetem à amante morta. O coronel encarrega o oficial de interrogar o prisioneiro e descobrir o paradeiro de uma segunda bomba. Não há tempo a perder. O tenente tem duas horas para obter a verdade. Escrito em 1967, o romance se inspira nos eventos da Guerra do Vietnã. Érico Veríssimo descreveu-o como “fábula moderna sobre vários aspectos da estupidez humana”, entre os quais a guerra e o racismo. O tenente negro sofre preconceito em sua terra natal. Reluta se deve ceder à engrenagem – a mesma que tirou a vida de seu pai. A vida e a dignidade de um homem valem menos do que a vida das muitas pessoas que o tenente poderia salvar? Os fins justificam os meios? Romance de conteúdo antibelicista com profunda repercussão moral, O prisioneiro suscita questões urgentes ainda em nossos dias.

Antologia Poética de Lêdo Ivo

Antologia Poética De Lêdo Ivo - Coleção Super Prestígio

Editora: Ediouro Publicacoes - Grupo Ediouro

Ledo Ivo é um poeta lírico extremamente denso, o canto lhe é essencial. Uma aspiração de ficar, durar, vencer o tempo, vencer a morte caracteriza sua poesia. Percebe-se nos versos intuição, lucidez crítica, ordenação, sistemacidade, harmonia. E um grande fascínio pela mocidade - um fogo interior, uma vibração na juventude, ou de descoberta de vida.

O Homem do Princípio ao Fim - Millôr


Ao fazer esta peça, Millôr traça um grande painel da trajetória humana de Adão até a Bomba H, esmiuçando os seus sentimentos, medos, mesquinharias, lutas e sua capacidade de criar e... destruir. Como "colagem", a peça se desenvolve com a inserção freqüente de citações de autores consagrados como Shakespeare, Gonçalves Dias, Rubem Braga, Joyce etc... É o homem fazendo e contando a história. 


O homem do princípio ao fim é mais uma vez o exercício da inteligência, do humor e do profundo interesse de Millôr Fernandes pelo ser humano. Ao fazer esta peça, Millôr traça um grande painel da trajetória humana de Adão até a Bomba H, esmiuçando os seus sentimentos, medos, mesquinharias, lutas e sua capacidade de criar e... destruir. Como "colagem", modalidade de espetáculo em que Millôr é pioneiro, a peça se desenvolve com a inserção freqüente de citações de autores consagrados como Shakespeare, Gonçalves Dias, Rubem Braga, Joyce etc. É o homem fazendo e contando a história.

O jornalista e humorista consagrado junta-se ao crítico da condição humana. E utilizando justamente a inteligência, o maior dos atributos humanos, Millôr leva-nos da perplexidade à mais gostosa gargalhada. É a história do Homem, desde o princípio até, quem sabe, seu fim.

Escrita e encenada no final da década de 60, este texto (como Liberdade, liberdade) mantém-se incrivelmente bela e atual. Sua reedição no início do novo milênio é uma homenagem à sua generosa mensagem e ao humanismo de que está impregnada toda a obra de Millôr Fernandes.

Uma Mulher Vestida de Sol - Ariano Suassuna

Uma Mulher Vestida de Sol foi a primeira grande tragédia produzida no Nordeste. Escrita para um concurso promovido pelo Teatro do Estudante de Pernambuco, em 1947, e classificada em primeiro lugar, deu início também à carreira de autor teatral de Ariano Suassuna. 

Segundo Suassuna, Uma Mulher Vestida de Sol era, ainda, sua primeira tentativa de recriar o romanceiro popular nordestino. Salientei, na época, a semelhança existente entre a terra da Espanha e o sertão, o romanceiro ibérico e o nordestino. Tomei um romance popular do sertão e tratei-o dramaticamente, nos termos da minha poesia - ela também filha do romanceiro nordestino e neta do ibérico. Procurei conservar na minha peça o que há de eterno, de universal e de poético no nosso riquíssimo cancioneiro onde há obras primas de poesia épica, especialmente na fase denominada do pastoreio.

Para Hermilo Borba Filho, o caráter puritano da primeira versão, quando o autor ainda era protestante, diluiu-se e a peça ganhou uma atmosfera de amor e violência comparável à das elisabetanas, que une os elementos sangue, honra, família, incesto, nas exatas medidas dramáticas. E aqui ainda o dramaturgo obedece fielmente à tradição clássica quando joga, dentro da atmosfera trágica, a comicidade do Bacharel Orlando de Almeida Sapo e do Delegado de Policia, figuras ridículas e chãs, em contraste com a estrutura dos demais personagens.



Sangue Estranho - Mikhail Sholokhow


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Marina – Carlos Ruiz Zafón

Neste livro, Zafón constrói um suspense envolvente em que Barcelona é a cidade-personagem, por onde o estudante de internato Óscar Drai, de 15 anos, passa todo o seu tempo livre, andando pelas ruas e se encantando com a arquitetura de seus casarões. É um desses antigos casarões aparentemente abandonados que chama a atenção de Oscar, que logo se aventura a entrar na casa. Lá dentro, o jovem se encanta com o som de uma belíssima voz e por um relógio de bolso quebrado e muito antigo. Mas ele se assusta com uma inesperada presença na sala de estar e foge, assustado, levando o relógio. Dias depois, ao retornar à casa para devolver o objeto roubado, conhece Marina, a jovem de olhos cinzentos que o leva a um cemitério, onde uma mulher coberta por um manto negro visita uma sepultura sem nome, sempre à mesma data, à mesma hora. Os dois passam então a tentar desvendar o mistério que ronda a mulher do cemitério, passando por palacetes e estufas abandonadas, lutando contra manequins vivos e se defrontando com o mesmo símbolo – uma mariposa negra – diversas vezes, nas mais aventurosas situações por entre os cantos remotos de Barcelona. Tudo isso pelos olhos de Oscar, o menino solitário que se apaixona por Marina e tudo o que a envolve, passando a conviver dia e noite com a falta de eletricidade do casarão, o amigável e doente pai da garota, Germán, o gato Kafka, e a coleção de pinturas espectrais da sala de retratos. Em Marina, o leitor é tragado para dentro de uma investigação cheia de mistérios, conhecendo, a cada capítulo, novas pistas e personagens de uma intrincada história sobre um imigrante de Praga que fez fama e fortuna em Barcelona e teve com sua bela esposa um fim trágico. Ou pelo menos é o que todos imaginam que tenha acontecido, a não ser por Oscar e Marina, que vão correr em busca da verdade – antes de saber que é ela que vai ao encontro deles, como declara um dos complexos personagens do livro.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A Manhã de Um Senhor - Leon Tolstoi


Trata-se de "A manhã de Um Senhor" (Editora Minha. Coleção Biblioteca de Ouro da Literatura Universal. 95 págs.), escrito por Léon Tolstói, ou Leão Tolstói, como alguns conhecem. Este pequeno livro traz além desta narração sobre as atividades de uma manhã de um jovem senhor, responsável por uma aldeia de camponeses, mais dois pequenos contos em sequencia: "Três Mortos" e "O Sonho".

Trata-se da narração das atividades matutinas de um jovem senhor, o príncipe Nekliudov, que cursava o terceiro ano de um curso universitário e que, depois de ter conhecimento das tristes realidades dos aldeões das propriedades de sua família, decide abandonar os estudos para dedicar-se ao governo destes camponeses, desejoso de melhorar-lhes a vida.

Depois de visitar numa só manhã quatro "isbás" (chalés ou casas em estilo camponês), acaba voltando para casa com o sentimento de frustração, pois na ânsia de mudar a situação das pessoas descobre que precisaria mudar elas, mas isso é mais difícil do que mudar ele mesmo.

Livrinho interessante este, levando em consideração o contexto do autor, a dura realidade social da Russia naquele momento histórico em que viveu Tolstói. De fato, ele mesmo acaba abandonando a própria família e riqueza para ser mais coerente com sua "ideologia" social-religiosa, negando o luxo a si por causa da miséria de tantos outros irmãos russos.

Os outros dois contos (que acredito que estão nesta edição por escolha da Editora que publicou esta coleção) trazem também um certo pensamento sobre a vida humana e o valor que se dá a ela. Em "Três Mortos" fica claro a referência ao fim da vida e a necessidade de edificação da moral e do caráter enquento existe possibilidade, pois ao fim da vida serão necessários como fortaleza diante do drama definitivo. Além disso a necessária confiança no além morte, confiança no Deus que nos quer dar uma vida eterna, justa com aquilo que se buscou viver enquanto gozava o dom da vida. É interessante que a última morte é a de uma árvore, algo curioso mas que mostra o quanto Tolstói também relaciona a natureza com este derradeiro fim da vida frágil que temos.

O último conto, "O Sonho", traz-nos a história de um velho príncipe, Mikail Ivanovitch, que tinha uma filha que era considerada por ela a joia de sua casa. Ela cresceu bela e formosa como era o esperado, mas não conseguia concretizar o sonho do pai de realizar bom casamento e elevar ainda mais a dignidade social da família. Pelo contrário, ela acaba aventurando-se em alguns namoricos até conhecer um sueco que lhe engravida. Pois Mikail ficou tão triste e decepcionado que desprezou a filha, sem mais querer vê-la na sua frente. A moça e seu futuro filho foram morar em outra cidade, mas o príncipe insistia em não a ver até que foi convencido a procurá-la pelo menos para entregar-lhe algum dinheiro e vê-la mais uma vez. Vendo-a, acidentalmente, acaba por deixar seu coração de pai falar mais alto, não conseguindo renegar mais sua filha:

A compaixão pela filha revelou ao príncipe seu próprio eu. E ao dar-se conta de como as coisas se haviam passado na realidade, compreendeu até que ponto era culpado diante dela, pelo seu orgulho, a sua frieza e inclusivamente os seus maus sentimentos. Alegrou-o o fato de não ter que perdoar, antes pelo contrário ter de pedir que lhe perdoassem. (TOLSTÓI, León. O Sonho, III)

Apesar de sua conversão para a filha não conseguia aceitar o menino que dela nascera, e isto ficou sendo fonte de sofrimento para a filha do príncipe. 

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Cruz de pedra e outros contos - Stefanyk Vassyl

Stefanyk Vassyl. Cruz de pedra e outros contos

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Stefanyk Vassyl. Cruz de pedra e outros contos
Rio de Janeiro: Companhia Brasileira de artes grãficas, 1982. — 65 p.
Sociedade dos amigos da cultura Ukraniana (Curitiba).
Traducão do Ucraniano: Wira Selanski.
Збірка новел Василя Стефаника у перекладі португальською мовою.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Brontë

“Se o amor dela morresse, eu arrancaria seu coração do peito e beberia seu sangue.”
O livro favorito do casal do momento: Bella e Edward! Na fazenda chamada Morro dos Ventos Uivantes nasce uma paixão devastadora entre Heathcliff e Catherine, amigos de infância e cruelmente separados pelo destino. Mas a união do casal é mais forte do que qualquer tormenta: um amor proibido que deixará rastros de ira e vingança. “Meu amor por Heathcliff é como uma rocha eterna. Eu sou Heathcliff”, diz a apaixonada Cathy. O único romance escrito por Emily Brontë e uma das histórias de amor mais belas de todos os tempos, O Morro dos Ventos Uivantes é um clássico da literatura inglesa e tornou-se o livro favorito de milhares de pessoas, inclusive dos belos personagens de Stephenie Meyer.


Sexta-Feira ou a Vida Selvagem - Michel Tournier

Robinson não poderá nunca voltar ao mundo que deixou. Então, palmo a palmo, edifica o seu pequeno reino. Tem uma casa, fortalezas para se defender e um criado, Sexta-Feira, que lhe é dedicado de alma e coração. Tem mesmo um cão, que envelhece calmamente ao sol de Speranza. A ilha é um pequeno baluarte de civilização e tudo parece ir pelo melhor. A verdade é que todos três se aborrecem. Sexta-Feira nada compreende da organização, das leis, dos rituais que tanto agradam a Robinson. Escapa-lhe a razão de ser dos campos cultivados, dos rebanhos, das fortalezas. Mas então dá-se um acontecimento inesperado… Esta obra é uma versão adaptada de «Vendredi ou Les Limbes du Pacifique», do mesmo autor.

Sexta-Feira ou a Vida Selvagem de Michel Tournier tem feito parte de uma das leituras obrigatórias para o 3º ciclo do Ensino Básico desde há longos anos. Para que o jovem leitor possa captar toda a importância desta obra, a presente publicação inclui um guia de leitura que oferece todas as informações fundamentais para ser contextualizada e as sugestões de leitura necessárias à perceção de uma mudança na forma como o pensamento europeu tem evoluído face a culturas anteriormente consideradas como primitivas.

O amante da China do Norte - Marguerite Duras

Ambientado na Indochina da década de 1920, este livro é o relato da paixão de uma adolescente branca e pobre e um chinês proibido de amá-la. Com seu estilo fluente e conciso, a autora volta à Indochina de sua infância para escrever este livro que guarda o traço autobiográfico de 'O amante'.

Ele diz:
-Vou magoar-te.
Ela diz que sabe.
Ele diz também que às vezes as mulheres gritam. Que as Chinesas gritam. Mas que só magoa uma vez na vida, e para sempre.

Neste livro existe uma palavra a partir da qual se ergue toda a história. Essa palavra é «criança», a criança. A paixão de um adulto por uma menina. A palavra criança enche este relato de inocência.

Um chinês adulto apaixona-se por uma menina. É rico e ocioso. Dedica-se às mulheres, ao jogo e a fumar ópio. “Não fazer nada é uma profissão. Muito difícil.” Um ambiente dócil e intencionalmente indolente, sem julgamentos. Era comum os chineses gostarem “das meninas pequenas”.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O Feitiço da Ilha do Pavão – João Ubaldo Ribeiro

O Feitiço da Ilha do Pavão – João Ubaldo Ribeiro é o nome máximo da literatura brasileira, autor de clássicos da produção contemporânea, como Sargento Getúlio e O sorriso do lagarto. Em O feitiço da ilha do Pavão, publicado originalmente em 1997, ele retoma a dimensão histórica de Viva o povo brasileiro para narrar uma epopeia ágil, bem-humorada, dos habitantes de uma ilha imaginária na costa da Bahia, na época do Brasil colonial.
A ilha do Pavão, geografia fantástica, é o microcosmo de uma sociedade de colonizadores portugueses, índios e negros. Mas esse mundo ficcional criado por Ubaldo alcança um patamar ainda maior: é a representação de um povo, com seus matizes, seus pontos de tensão, suas glórias. O livro não se restringe ao romance histórico; é um mergulho na própria identidade brasileira.
O feitiço da ilha do Pavão é também uma narrativa vibrante, em que João Ubaldo explora ao máximo a riqueza da língua para criar diálogos vivazes, descrições de um colorido e uma precisão incomparáveis.




O NOME DA ROSA - Umberto Eco

Descrição do livro
Ficção de estréia de um dos mais respeitados teóricos da semiótica, O Nome da Rosa transformou-se em prodígio editorial logo após seu lançamento, em 1980.Tamanho sucesso não parecia provável para um romance cuja trama se desenrola em um mosteiro italiano na última semana de novembro de 1327.Ali, em meio a intensos debates religiosos, o frade franciscano inglês Guilherme de Baskerville e seu jovem auxiliar, Adso, envolvem-se na investigação das insólitas mortes de sete monges, em sete dias e sete noites.Os crimes se irradiam a partir da biblioteca do mosteiro – a maior biblioteca do mundo cristão, cuja riqueza ajuda a explicar o título do romance: “o nome da rosa” era uma expressão usada na Idade Média para denotar o infinito poder das palavras.Narrado com a astúcia e graça de quem apreciou (e explicou) como poucos as artes do romance policial, O Nome da Rosa encena discussões de grandes temas da filosofia européia, num contexto que faz desses debates um ingrediente a mais da ficção.O livro de Eco é ainda uma defesa da comédia – a expressão do homem livre, capaz de resistir com ironia ao peso de homens e livros.


O Gênio e a Deusa – Aldous Huxley

O Gênio e a Deusa – Aldous Huxley

Publicado em 15/06/2012 - Por Vortex Cultural
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Vocês vão me chamar de chato insistente por falar de novo desse negócio de ler outras obras do autor além daquela pela qual ele é mais conhecido, mas eu vou me dar o benefício da dúvida e crer que vocês ainda não perderam a paciência com essa minha mania de leitura. Para isso vou dar mais um exemplo: O Gênio e a Deusa, de Aldous Huxley.

O livro é curto e simples, pelo menos do ponto de vista do enredo. Um biógrafo interessado na vida do cientista atômico Henry Maartens procura John Rivers, seu aprendiz, para que esse revele detalhes particulares que o ajudem a compor a história da vida do notório cientista. John Rivers, numa frase que podia figurar naquelas listas de melhores inícios de história, começa seu relato dizendo:

“O mal da ficção (…) é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido. (…) A ficção tem unidade, a ficção tem estilo. A realidade não possui nem uma coisa nem outra. Em seu estado bruto, a existência é sempre um infernal emaranhado de coisas (…) O critério da realidade é a sua incongruência intrínseca.” (p. 1)

Quando li essa primeira frase sabia que estava diante de um livro que iria gostar. Não sei se porque isso faz um sentido enorme para minha pesquisa ou porque gosto muito de literatura que fala sobre literatura, mas o fato é que considero O Gênio e a Deusa um livro muito bom.

John, ao relatar sua história com Maartens, nos leva a conhecer o tempo em que se tornou aprendiz dele, passou a morar com ele e sua família, se tornando assim, conforme constatamos com o andar da trama, também um membro dessa. Ele dá passeios com Ruth, a filha admiradora de poesia e de Edgar Allan Poe; conversa e brinca com o garoto Timmy; faz favores à Katy, a bela e espirituosa esposa de Henry etc. Tudo isso além de seus compromissos no laboratório.

Quando Huxley nos conta a história do ponto de vista do biógrafo de Henry, nos parece que esse será um livro também sobre o cientista, que versará sobre as experiências e descobertas desse (e de seu assistente) no campo da Física, Química e afins. Descobrimos, entretanto, que mais do que a ciência, a vida de Henry Maartens está repleta de romantismo, completamente enovelada na sua relação com sua esposa.

Assim, O Gênio e a Deusa não está repleto de termos científicos, de padrões frios e pesquisas levadas a cabo com uma exatidão por demais racional; mas sim abunda na humanidade da ciência, no que ela tem de mais proximal em relação a nossa própria consciência. Você não irá encontrar um cientista obcecado pela ciência, quase sendo por ela engolida. Você encontrará, sim, a ciência explorada em suas dimensões humanas, se comportando como evidências do potencial do homem em conhecer a natureza que o rodeia e a si próprio.

Por isso a referência dupla (e aparentemente contraditória) do título. Não é preciso abandonar a beleza ao fazer ciência, não é necessário excluir a poesia do texto científico. Da mesma forma que o gigantismo intelectual de Henry repousava sobre o frágil equilíbrio de sua relação com sua musa, Katy; também a ciência se mantém construtiva para o homem na medida em que não se torna uma obsessão.

Com um lirismo sensual, que explora facetas românticas da relação entre Katy e Henry, Huxley novamente nos fala (em outros termos) sobre a ciência e a tecnologia, e o que elas tem significado para os homens e a sociedade. A ciência convertida numa tecnologia bizarra, em Admirável Mundo Novo, onde se faziam homens em linhas de produção, é trazida aqui para uma trajetória individual. Descobrimos que a racionalidade que a caracteriza só lhe é útil até o ponto a partir do qual imperam conhecimentos que podem lhe parecer estranhos, como os sentimentos e as sensações, por exemplo.

O que a ciência representa para Henry, entretanto, não é o que significa para a massificação com que ela é praticada no mundo atual, ou como foi utilizada na construção da bomba atômica. A relação entra a vida e a ciência, que deveria ser orgânica, intrínseca, deixa de estar ao alcance dos homens se tornando uma arma, algo que lhes causa dor, sofrimento e, porque não dizer, alienação.

Com uma sensibilidade notória, Huxley coloca diante do leitor duas dimensões essenciais do conhecimento humano: a ciência abstrata e a empiria imediata. Embora elas pareçam estar irremediavelmente separadas no “mundo” como o conhecemos, elas são componentes de um mesmo constructo, uma não existe sem a outra. O questionamento que perpassa o conflito afetivo de Henry é o mesmo presente no cerne da reflexão de Huxley: do que serve a ciência e a tecnologia se não nos torna mais felizes, ou a vida mais prazerosa e justa? Ou em nível individual: do que serve a complexidade hermética da ciência de Henry se não torna sua relação com a esposa, parte capital de sua existência, melhor?

Essa é deveras uma pergunta que já foi feita várias vezes por várias pessoas em vários tempos, ainda que de formas diferentes. Apesar da recorrência, ela não fica ultrapassada, permanece viva, desafiando nossa própria capacidade de compreendê-la.

HUXLEY, Aldous. O gênio e a deusa. 4ª ed. Tradução de João Guilherme Linke. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

Texto de autoria de Lucas Deschain.



Leia Mais: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-o-genio-e-a-deusa-aldous-huxley/#ixzz3r5F9FgcN

PORTUGAL E O FUTURO - António Spínola

PORTUGAL E O FUTURO ANÁLISE DA CONJUNTURA NACIONAL, do General António Spínola, prefácio de Carlos Lacerda, editado pela Nova Fronteira  nos idos de 1974 que, na época, defendeu que “Portugal é e deve ser cada vez mais um país africano do que europeu” sugerindo a criação de uma Federação intercontinental sob um governo central. Uma versão nova da Comunidade Britânica, à moda portuguesa, aprendida também a lição do general De Gaulle e do seu “referendo” na África.

No livro o Spinola esclarece às páginas 34 e 35:
“Analisemos agora o nosso caso à luz do imperativo da otimização de recursos impostos pela sobrevivência e prosperidade nacionais, orientando-nos para o efeito, pelos próprios objetivos definidos no IV Plano de Fomento. Tomando como referencia o prazo limite da vigência do acordo de Bruxelas e circunscrevendo a análise ao quadro da estrutura econômica que lhe preside, o exame dos dados estatísticos revela que, na hipótese do crescimento da economia nacional às taxas mais favoráveis, precisaríamos de 30 anos para recuperar o nosso atraso em relação aos países menos desenvolvidos do Mercado Comum”.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

O pensamento de Che Guevara - Michael Löwy

O pensamento de Che Guevara - Michael Löwy


Nascido em 1928 e assassinado em 1967 em uma emboscada na Bolívia, onde lutava contra as forças que oprimiam o povo boliviano, seu compromisso com a História foi forjado na luta diária, no campo, na cidade e na trincheira revolucionária, clandestina ou legal, quando colocou o seu pensamento em prática. Pelas suas intervenções políticas, o pensamento que desenvolveu e o significado que sua trajetória assumiu, Che tornou-se um dos símbolos do século de maiores transformações e enfrentamento de idéias e de forças que a humanidade já conheceu. Che é um exemplo de luta intransigente, o que faz de sua militância um legado para as novas gerações de lutadores e lutadoras do povo por um mundo melhor.

Escrito em 1969, dois anos após a morte de Ernesto Che Guevara numa emboscada na Bolívia, este título é uma síntese da contribuição teórica do revolucionário argentino-cubano. Além de mostrar as motivações éticas, políticas e humanistas, destacam-se textos e temas (o pensamento filosófico, o pensamento econômico e a guerra revolucionária) que tratam dos desafios enfrentados por Che na revolução cubana. O autor conclui a obra discorrendo sobre o significado do guevarismo em nossos dias.

Os Saltimbancos - Chico Buarque

Os Saltimbancos é um musical infantil com letras de Sergio Bardotti e música de Luis Enríquez Bacalov, com versão em português e músicas adicionais de Chico Buarque.

História 
Uma das mais expressivas obras de teatro musical dedicada ao publico infantil, no Brasil, “Os Saltimbancos” narra as aventuras de quatro bichos que, sentindo-se explorados por seus donos, resolvem fugir para a cidade e tentar a sorte como músicos.
A fábula musical foi traduzida e adaptada para o português por Chico Buarque de Hollanda em 1977 da peça teatral de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, que por sua vez haviam feito uma adaptação do conto “Os Músicos de Bremen”, dos irmãos Grimm, como uma alegoria política, na qual o Burro representaria os trabalhadores do campo; a galinha, a classe operária; o cachorro, os militares e a gata, os artistas. O barão, inimigo dos animais, seria a personificação da elite, ou dos "detentores do meio de produção".

Montagem teatral
O espetáculo teve estreia histórica no Canecão, no Rio de Janeiro, em agosto de 1977, com direção de Antonio Pedro, e contando no elenco com Marieta Severo (a Gata), Miúcha (a Galinha), Pedro Paulo Rangel (o Cachorro) e Grande Otelo (o Jumento). No coro infantil, estavam, entre outras crianças, Bebel Gilberto (filha de João Gilberto e Miúcha), Isabel Diegues (filha de Nara Leão), Silvia Buarque, Alexandra Marzo e Alice Borges (filha de Antonio Pedro). Os cenários e figurinos foram assinados por Maurício Sette. Chamava a atenção a presença de gigantescos bonecos que representavam os patrões dos bichos e que foram criados justamente nesta proporção para que as crianças pudessem mensurar o poder dos homens em relação aos animais.   Segundo texto do crítico Nelson Motta, que cobriu a estreia para o jornal O Globo, "Embora criado para crianças, Os Saltimbancos pode perfeitamente se inscrever entre os melhores espetáculos para adultos em cartaz na cidade". Completa Nelson Motta em sua crítica: "(...)Me senti invadido por uma luminosa emoção diante de profunda demonstração de amor e respeito de Chico Buarque para as crianças brasileiras, revelando-lhes numa linguagem simples e direta alguns valores fundamentais para a vida de tantos - adultos e crianças". O musical ganhou o Troféu Mambembe na Categoria Especial para Chico Buarque pela adaptação da obra, e o Troféu APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Espetáculo.





ÓPERA DO MALNDRO - Chico Buarque


Resumo e análise


A Ópera do Malandro está atualíssima, ou seja, continua fazendo parte de um Brasil conhecido pela maioria dos brasileiros.
Um cafetão de nome Duran, que se passa por um grande comerciante, e sua mulher Vitória, que do nome nada herdou. Vitória era uma cafetina que, na realidade, vivia da comercialização do corpo. A sua filha Teresinha era apaixonada por uma patente superior, Max Overseas, que vive de golpes e conchavos com o chefe de polícia Chaves. Outras personagens são as prostitutas, apresentadas como vendedoras de uma butique, e a travesti Geni, que só serve para apanhar, cuspir e dar para qualquer um.
A peça se passa na década de 1940, tendo como pano de fundo a legalidade do jogo, a prostituição e o contrabando. Mostra um contexto bem parecido com nosso terceiro milênio, em que temos o jogo do bicho, entre outros tantos; as prostitutas do calçadão de Copacabana, o contrabando nas ruas de CDs, DVDs.
Qual seria o significado do nome Overseas? (ultramar) Se analisarmos o nome "overseas" lexicalmente, veremos que "over" significa "além" e "seas" oceanos. Logo, aglutinando as duas palavras, teremos como conclusão além dos oceanos, ou seja, além dos mares, além das fronteiras. Reparem que no final ele se lança em transações além mar, ultrapassando as fronteiras, inclusive da legalidade, espalhando a sua malha de negócios, agora legais, com dois grandes ex-amigos: o gigolô Duran e o delegado Chaves, cognominado Tigrão.
Todas as músicas são da autoria de Chico Buarque que, por sua genialidade, consegue harmonizá-las com o texto. Na música Geni e o Zepelim, Geni, é uma travesti, fato que só descobrimos assistindo à peça. Geni, a princípio, não serve para nada. Todavia, quando o comandante de um zepelim reluzente resolve bombardear a cidade, mudando de ideia apenas se tiver uma noite de amor com a travesti, todos resolvem pedir-lhe para ceder aos caprichos do comandante. As músicas seguem os compassos binário (2/4), terciário (3/4) e quaternário (4/4).








CALABAR - Chico Buarque e Ruy Guerra

Quando o bom humor também faz pensar



Por Claudio Pucci

"Calabar" de Chico Buarque e Ruy Guerra, dirigida por Fernando Peixoto, é a mais recente e boa novidade do teatro paulista. Proibida desde 73, quando o mesmo Peixoto dirigia no Rio sua primeira e frustrada montagem, a peça representa agora, encenada no Teatro São Pedro, uma importante afirmação no nosso teatro e da gente que faz, num espetáculo que lembra a todos o óbvio e às vezes esquecido príncípio de que pensamento e bom humor não são incompatíveis. E é divertindo e fazendo rir (bem, não dá para deitar e rolar...) que "Calabar" propõe um estimulante jogo de reflexão.

Mulato sarará, bravo guerreiro, Calabar servia aos portugueses no Brasil Colônia da primeira metade do século 17, onde, como sempre, todo mundo dava sua bicadinha, direta ou indiretamente (espanhóis, ingleses, franceses, holandeses). Acabou virando bandeira, possivelmente por achar que lutando com os holandeses, contra os portugueses, estava defendendo o Brasil, naquele momento. Dançou. Enforcaram o moço, picaram em pedaços, cuspiram, salgaram a terra onde vivia, como fizeram com Tiradentes. Só que Calabar entrou para a História, escrita pelos portugueses como um insuspeitável traidor. Se os historiadores fossem os holandeses, o mulato virava herói. Mas a idéia não é reabilitar a "denegrida" imagem de Calabar, mas sim considerar que traição, como tantas outras coisas que são dadas como "certas", é uma questão de ponto de vista; e que até hoje tem gente sendo sacrificada por não estar de acordo com a "História" que continua sendo escrita pelos dominadores, flagrante minoria.

Mas o espetáculo não fica só no discurso não, e até faz uma antiga postura quando anuncia o intervalo. Tem música, e da boa, já gravada em disco, embora censurada; tem trapalhadas de uma boa chanchada, de um teatro de revista; tem muita mulher bonita, e até completamente sem roupa, um papagaio maluco, um boi voador, um frei também, e um bom elenco, onde ninguém (Tânia Alves é a melhorzinha) sabe cantar, mas fazer, o que se há de? Nesse elenco está Othon Bastos, fazendo dois papéis, o do governador Mathias de Albuquerque e o do príncipe holandês Maurício de Nassau, enviado especial da CIO (Companhia das Índias Ocidentais). E sua presença, segura e brilhante, já seria uma boa razão para se ir ao São Pedro.

Mas não espere perfeição, e o diretor Fernando Peixoto deve ter dado muito upa para minorar e/ou transformar limitações do texto em qualidades do espetáculo. O Chico não gosta que se diga, mas ainda lhe falta (aqui também ao Ruy) mais carpintaria, artesanato teatral - sozinho ou em parceria.

"Calabar" (que tem o subtítuto "O elogio da traição") é melhor que a "Ópera do Malandro", se for comparar. É mais clara e amarrada, embora ainda um pouco confusa e caótica - o que serve aqui ao diretor para montar o painel-salada pretendido. E não se deve esquecer: com esse negócio de censura ficar cortando tudo, pedaços, interditando o feito, tanto com a "Ópera" como com "Calabar", explicitar, enxugar, e tira aqui põe ali, que não há dramaturgo, diretor e ator que dê jeito.

Mas essa gente até que deu (o bom elenco de 20 atores tem ainda Tânia Alves, Sérgio Mambertti, Renato Borghi, Martha Overbeck, Gésio Amadeu, Miguel Ramos, Osmar di Pieri, Elias Andreato, Ariel Moshe, Dadá Cyrino, Édsel Britto, Ina Rodrigues, Luiz Braga, Luis Carlos Gomes, Mercedes de Souza, Samuel Santiago, Wilson Rabelo, Zdenek Hampl e a encantadora Mônica Brant, em cenário e figurinos de Hélio Eichbauer, com direção musical de Marcus Vinícius). E o aviso no palco escrito com letras meio tortas e trôpegas é a melhor legenda, não só para o mulato sarará personagem mas para todos - desde Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Tetê Medina, Hélio Ari, Betty Faria (da primeira montagem, interditada), até esse grupo de agora, incluindo a costureira Alice, a camareira Helena e o maquinista Paschoal - que fizeram esse trabalho, e quem mais se identificar com ele: "Calabar é como cobra de vidro (um lagarto de lenda popular): quando se corta em dois ou três, facilmente se refaz."



LEITE DERRAMADO - Chico Buarque


Descrição do livro

Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. A fala desarticulada do ancião cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar. Tudo, neste texto, é conciso e preciso; como num quebra-cabeça bem concebido, nenhum elemento é supérfluo. Percorre todo o livro a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os múltiplos traços de Matilde, seu “olhar em pingue-pongue”, suas corridas a cavalo ou na praia, suas danças, seus vestidos espalhafatosos, ao mesmo tempo que determinam a paixão do marido e impregnam indelevelmente sua lembrança, ocasionam a infelicidade de ambos. Embora vista de forma indireta e em breves flashes Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível. Outras figuras, fixadas a partir de mínimos traços, circulam pela memória do protagonista: o arrogante engenheiro francês Dubosc; a mãe do narrador, que, de tão reprimida e repressora, “toca” piano sem emitir nenhum som; a namorada do garotão com seus piercings e gírias. É espantoso como tantas personagens ganham vida neste breve romance. Leite derramado é obra de um escritor em plena posse de seu talento e de sua linguagem.



BENJAMIM - Chico Buarque

Chico Buarque volta ao romance com o onírico Benjamim e revela que sua maior inspiração literária é a música

Ao contrário do tom confessional de Estorvo, Benjamim, o aguardado e até ontem misteriosíssimo segundo romance do cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, é narrado em terceira pessoa. Mas, nem por isso, perde o tom onírico e difuso com que Chico já flertava no livro anterior - até então só havia se aventurado em peças, como Gota d'água, Ópera do malandro e Roda viva, e na novela Fazenda modelo. Mas, longe de um imparcial observador da trama, Chico constrói a história a partir do olhar de cada personagem. O resultado é um livro surpreendente, onde as palavras são manipuladas para construir imagens perfeitas que poderiam estar numa das letras do autor. Nas livrarias na próxima sexta-feira, Benjamim (Companhia das Letras) é falsamente simples. Tão simples que mata o protagonista no primeiro parágrafo.
A história é um delírio do ex-modelo fotográfico Benjamim Zambraia segundos antes de morrer num, a princípio, nebuloso fuzilamento. Obcecado por Castana Beatriz, ex-namorada morta, ele encontra Ariela Masé, uma jovem que se transforma na continuação da amada perdida, com quem é estranhamente parecida. Os dois personagens surgem em situações paralelas que vão se chocando até o final genial. As emoções são mais vividas que narradas, num ritmo que, mesmo extremamente cinematográfico, e, acima de tudo, musical.
A cidade não é o Rio, mas parece. O casal central e os personagens secundários - o político cretino, o marido policial entrevado, o chefe capaz de esfregar na cara a toalha usada por Ariela, por exemplo - poderiam ser de Rubem Fonseca. Mas Chico não pensa duas vezes ao indicar a maior influência de sua literatura ''Meu mentor é a música", admite (leia entrevista na página 5 ).
Ritmada, descritiva sem ser realista e recheada de passagens onde nenhuma emoção precisa ser explícita para que se saiba o que sente o personagem, a narrativa de Benjamim não é vertiginosa como a de Estorvo. Vai por estrofes de canção e se repete em refrões, até ganhar velocidade perto do fim. Chico diz que as citações são todas cinematográficas ou literário-musicais, sem nada específico.
Mas o leitor que buscar em Benjamim o lirismo de um dos maiores pintores da música brasileira fará suas próprias relações. E encontrará quadros conhecidos, como quando Ariela termina um capítulo sob a luz rasante do sol descendo uma rua, mirando-se não nas Vitrines, mas nas fachadas alternadamente, "lado ímpar e lado par, ímpar e par".
Benjamim acredita ter encontrado em Ariela a filha ilegítima deixada pela idealizada Castana Beatriz. Ao redor dos dois circula Alyandro, o bandido promovido a político, o chefe de Ariela e outros espectros, que entrecortam e contracenam sem se ver, como no momento em que a narrativa segue um comício numa praça. O resultado lembra a câmera sem corte de Robert Altman na abertura de O jogador. Tudo acontece para voltar aos segundos antes da morte que inicia o livro, num ciclo em que os personagens são descobertos aos poucos, enganam o leitor sem querer e se revelam uns para os outros.
Mesmo dentro do sonho, os personagens ganham realidade e o leitor vira cúmplice involuntário ou angustiada testemunha muda. Chico conta primeiro ao leitor o fim do livro e o obriga a assistir, calado, o destino de Benjamim. Unindo e separando Ariela e Benjamim, ele apresenta ao leitor a verdade (?) sobre Castana e sua luta política e sobre o policial Jeovan, paralítico graças a um tiro. Benjamim e Ariela caminham nervosamente para um endereço que só Ariela e o leitor conhecem, para onde ela já levou muitos homens e que Benjamim conhece, mas não sabe disso ainda. Nas 170 páginas de Benjamim, Chico confunde e guia através da neblina da mente de Benjamim e mostra como o clima onírico de um delírio derradeiro pode ter jeito de diário.

FAZENDA MODELO - Chico Buarque

Chico escreveu a "novela pecuária" Fazenda modelo em 1974, quando rompeu por um período seus contratos musicais e se trancou durante nove meses para compilar o livro. Os bois e outros animais compõem uma alegoria do Brasil da censura, da ditadura, das maravilhas e mazelas do milagre econômico.
 
Em Fazenda modelo, "novela pecuária": Chico Buarque tece uma alegoria sobre a sociedade dos homens - falando, no entanto, exclusivamente de bois e vacas. 
Trata-se de uma parábola sobre o poder, a respeito das formas de dominação social sobre o rebanho humano. E a forma de dominação mais radical é usurpar do indivíduo - sempre em nome dos mais santos princípios - qualquer possibilidade de assumir seu próprio destino pessoal. 
A Fazenda modelo é uma comunidade bovina que começa a crescer e que se vê - através da liderança mansa do boi Juvenal, o bom - submetida a um processo radical de transformação, de "progresso": em que tudo que era natural é considerado "atrasado" ou "pecado" e passa a ser cientificamente regulado. Destroem-se todas as formas de auto-regulação do indivíduo, desde as alimentares até as sexuais: a procriação na Fazenda Modelo estava garantida através da inseminação artificial - do banco de espermas do touro Abá, o Grande Reprodutor. Juvenal abolira o relacionamento sexual do rebanho, totalmente voltado à reprodução. E o filho de Abá, Lubino, deveria suceder o pai nessa gloriosa tarefa de "rapador" da Fazenda Modelo. 
É exatamente o momento da "iniciação" de Lubino por Jurenal que o trecho escolhido apresentará.
Adélia Bezerra de Meneses,
Literatura Comentada, Abril Cultural, 1980