Chico escreveu a "novela pecuária" Fazenda modelo em 1974, quando rompeu por um período seus contratos musicais e se trancou durante nove meses para compilar o livro. Os bois e outros animais compõem uma alegoria do Brasil da censura, da ditadura, das maravilhas e mazelas do milagre econômico.
Em Fazenda modelo, "novela pecuária": Chico Buarque tece uma alegoria sobre a sociedade dos homens - falando, no entanto, exclusivamente de bois e vacas.
Trata-se de uma parábola sobre o poder, a respeito das formas de dominação social sobre o rebanho humano. E a forma de dominação mais radical é usurpar do indivíduo - sempre em nome dos mais santos princípios - qualquer possibilidade de assumir seu próprio destino pessoal.
A Fazenda modelo é uma comunidade bovina que começa a crescer e que se vê - através da liderança mansa do boi Juvenal, o bom - submetida a um processo radical de transformação, de "progresso": em que tudo que era natural é considerado "atrasado" ou "pecado" e passa a ser cientificamente regulado. Destroem-se todas as formas de auto-regulação do indivíduo, desde as alimentares até as sexuais: a procriação na Fazenda Modelo estava garantida através da inseminação artificial - do banco de espermas do touro Abá, o Grande Reprodutor. Juvenal abolira o relacionamento sexual do rebanho, totalmente voltado à reprodução. E o filho de Abá, Lubino, deveria suceder o pai nessa gloriosa tarefa de "rapador" da Fazenda Modelo.
É exatamente o momento da "iniciação" de Lubino por Jurenal que o trecho escolhido apresentará.
Adélia Bezerra de Meneses,
Literatura Comentada, Abril Cultural, 1980

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